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Os Sertões

abril 4, 2012

Literatura – 3o ano

O Pré-Modernismo

A literatura brasileira atravessa um período de transição nas primeiras décadas do século XX. De um lado, ainda há a influência das tendências artísticas da segunda metade do século XIX; de outro, já começa a ser preparada a grande renovação modernista, que se inicia em 1922, com a Semana de Arte Moderna. A este período de transição, que não chegou a constituir um movimento literário, chamou-se Pré-Modernismo.
Uma vez não se tratando de um estilo de época, com características definidas, o pré-modernismo apresenta individualidades bastante acentuadas, com estilos, às vezes, antagônicos, não havendo, portanto, um padrão, mas sim alguns pontos comuns, como por exemplo, a ruptura com o passado e a denúncia da realidade brasileira(o Brasil não oficial do sertão nordestino e dos subúrbios).

CANUDOS: miséria, fanatismo e violência

A guerra de canudos(1896 – 1897) foi um dos conflitos mais violentos da história brasileira, ocasionando a morte de 15 mil pessoas, entre sertanejos e militares.
O Nordeste brasileiro vivia, nas últimas décadas do século XIX, uma de suas piores crises econômicas e sociais, o que provocou a morte de milhares de pessoas, vitimadas, principalmente, pela seca.
Canudos era, inicialmente, uma fazenda abandonada, no sertão da Bahia, na qual se instalou o fanático religioso Antônio Maciel, conhecido como Conselheiro. Em pouco tempo, em torno do líder religioso, formou-se uma cidade de pessoas miseráveis e abandonadas à própria sorte. A cidade, que passou a chamar-se Belo Monte, chegou a contar com cerca de 15 a 25 mil habitantes, sendo superada apenas por Salvador.
Isolados, alheios a pagamentos de impostos e à oficialização da cidade junto ao Estado, logo o povoado passou a Ter problemas com a igreja e com as leis locais, o que gerou o conflito.
Além disso, os sermões de Conselheiro não tratavam apenas da salvação das almas, mas também de problemas concretos, como a miséria e a opressão política. Talvez sem ter completa clareza do que falava, Conselheiro fazia críticas à República nascente, acusando-a de responsável pela condição do povo nordestino. Em todo o país, o movimento foi identificado como monarquista e considerado uma ameaça à soberania nacional, sem que suas verdadeiras causas fossem discutidas.

Adotando o modelo determinista, segundo o qual o meio determina o homem, a obra organiza-se em três partes:

A terra: condições geográficas do sertão.
O homem: descrição dos costumes do sertanejo.
A luta: descrição dos ataques a Canudos até a sua extinção.

Enviado, em 1897, como correspondente , pelo jornal O Estado de São Paulo, ao sertão da Bahia para cobrir a guerra de Canudos, Euclides da Cunha(1866-1909), ex-militar, coloca-se, nitidamente, a favor do sertanejo, situando o fenômeno de Canudos como um problema social, decorrente do isolamento político e econômico do Nordeste em relação ao resto do país. Assim, desmistificou a versão oficial do Exército, segundo a qual o movimento pretendia atacar a República.

FRAGMENTOS DE OS SERTÕES

TEXTO 1: descrição da caatinga.

“Então, a travessia das veredas sertanejas é mais exaustiva que a de uma estepe nua. Nesta, ao menos, o viajante tem o desafogo de um horizonte largo e a perspectiva das planuras francas.
Ao passo que a caatinga o afoga; abrevia-lhe o olhar; agride-o e estonteia-o; enlaça-o na trama espinescente e não o atrai; repulsa-o com as folhas urticantes, com o espinho, com os gravetos estalados em lanças, e desdobra-se-lhe na frente léguas e léguas, imutável no aspecto desolado: árvore sem folhas, de galhos estorcidos e secos, revoltos, entrecruzados, apontando rijamente no espaço ou estirando-se flexuosos pelo solo, lembrando um bracejar imenso, de tortura, da flora agonizante…”

TEXTO 2: descrição do sertanejo.

“O sertanejo é, antes de tudo, um forte. Não tem o raquitismo exaustivo dos mestiços neurastênicos do litoral.
A sua aparência, entretanto, ao primeiro lance de vista, revela o contrário. Falta-lhe a plástica impecável, o desempenho, a estrutura corretíssima das organizações atléticas. […] Este contraste impõe-se ao mais leve exame. Revela-se a todo o momento, em todos os pormenores da vida sertaneja – caracterizado sempre pela intercadência impressionadora entre extremos impulsos e apatias longas.”

TEXTO 3: a guerra e seu significado.

“Decididamente era indispensável que a campanha de Canudos tivesse um objetivo superior à função estúpida e bem pouco gloriosa de destruir um povoado dos sertões. Havia um inimigo mais sério a combater, em guerra mais demorada e
digna. Toda aquela campanha seria um crime inútil e bárbaro, se não se aproveitassem os caminhos abertos à artilharia para uma propaganda tenaz, contínua e persistente, visando trazer para o nosso tempo e incorporar à nossa existência aqueles rudes compatriotas retardatários.”

Exercícios

1. Com base no texto 1, como se caracteriza a natureza onde vive o sertanejo?

2. De acordo com o texto 2, o sertanejo mostra-se contraditório. Por quê?

3. No texto 3, o autor critica a guerra em si. Afirma que “outra guerra mais demorada e digna” deveria ser travada. Qual é essa guerra?

4. O relato de Euclides da Cunha revela influências da ciência da época e, ao mesmo tempo, o desejo de chegar à verdade dos fatos.

a) Destaque do texto 2 um trecho que comprove as influências de teorias raciais existentes no começo do século XX.

b) Por que se pode afirmar que a estrutura da obra, dividida em três partes, prende-se aos pressupostos naturalistas de análise do comportamento humano?

c) Euclides não aceita a versão oficial do Exército, segundo a qual Canudos era um foco monarquista. Concluindo: na visão do autor, quais são as causas desse fenômeno social?

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